
"Eu já ando injuriado, ô xará
Meu salário defasado,
Meu povo todo esfomeado
E ainda é intimado a votar "
Há quem credite a esse personagem ímpar da nossa cultura a imagem de malandro, um músico que buscava em suas letras chegar ao tal do "sambandido" termo dado, claro, por aqueles que, certamente, não entendiam ou se negavam a ouvir a voz do povão dos morros carioca.
Muito mais do que um simples porta voz das periferias , Bezerra, através de suas letras audaciosas e provocativas mostrava ao Brasil a realidade que muitos até hoje insistem em não enxergar. Quando perguntado se ele sentia-se incomodado por ser taxado de Malandro, apenas deu mais uma de suas alfinetadas dizendo: "O verdadeiro Malandro acorda cedo pra trabalhar por que não tem disposição pra puxar um gatilho" , por essas palavras fica claro a intenção que o mestre Bezerra tinha ao compor, era a intenção de passar a imagem da vida daqueles humildes trabalhadores que, seja com chuva ou com sol, são obrigados a acordar cedo e viver a sua vida e apenas a tentam da maneira mais digna possível
O descaso do estado para com os mais humildes lhe despertava uma grande ira, a critica aos políticos brasileiros era cada vez menos discreta, não por acaso Bezerra foi preso duas vezes e os motivos até hoje não são muito claro. "Candidato Caô Caô" e " Assombração de Barraco" traduzem bem a imagem que ele tinha da grande maioria dos "bicho feroz" engravatados que até hoje gerem o nosso país.
Bezerra era fã assumido de um outro malandro, o malandro paulista Adoniran Barbosa, que também escrevia seus sambas no intuito de atingir o povo mais simples e excluído.
De morador de rua a um dos mais consagrados interpretes e compositores do samba brasileiro, Bezerra preservou suas origens, fez questão de continuar no morro e fiel a sua ideologia até o ultimo segundo de sua vida, Bezerra deixou os morros carregados no dia 17/01 de 2005, seus vizinhos e amigos diziam que até na hora de sua partida Bezerra foi Malandro, esse foi o 171 que mais marcou a história do povo que, através das letras desse interprete se expressavam, Bezerra era apenas um, mas sua voz se multiplicava, era a identidade de uma nação, uma nação esquecida que até hoje procura por uma pátria mãe gentil.